Paciência

Paciência

Um homem estava subindo uma montanha sob um caminho irregular, seus pés estavam ardendo, pois havia suor em suas feridas. No meio do caminho havia uma grande pedra, que conversava com a montanha. 

— Ó montanha, minha amiga, o que posso fazer para também me tornar uma majestosa montanha como você? — perguntou A Pedra.

A Montanha não respondeu. O andarilho que estava de passagem, se sentou na pedra.

— Ei, seu maltrapilho, saia de cima de mim! — gritou A Pedra.

O andarilho não respondeu, afinal pedras e pessoas não se comunicam. Ele sacou um cantil de whisky e passou a beber muito intensamente. Depois de meia hora, levantou-se e seguiu seu caminho, deixando A Pedra sozinha…

Dias e noites passaram como segundos para A Pedra e não havia nenhum ser para conversar com ela, além de pequenos pássaros com seus piados fracos. Depois disso tiveram chuvas, ventanias, raios e trovões, mas nada do homem voltar.

Vinte anos se passaram e outro homem, subindo a montanha, passou pela pedra.

— Ei você, consegue me ouvir? Por que sobes? — perguntou a montanha.

— Oras, vim buscar meu pai, fazem vinte anos que ele foi buscar meu vô e nunca voltou pra casa. — disse o rapaz, em tom mais amargo.

Ele se sentou do lado da pedra, derramou um pouco do whisky de sua garrafa na pedra e começou a beber. A noite chegou e uma fogueira foi acesa por ele.

— Sabe, meu sonho é tornar-me uma montanha, mas sempre que tento conversar com A Montanha, nunca sou respondido. — lamentou a pedra.

— Por que você almeja isso? — apontou o rapaz.

— Queria enxergar mais paisagens, sentir o vento gelado de perto das nuvens… Coisas desta estirpe.

— Talvez a parada seja algo mais espiritual, saca?

— Como assim? — indagou a pedra.

— Você vai descobrir.

Depois disso o rapaz dormiu até o dia raiar, ele juntou suas coisas e ambos, ele e A Pedra se despediram para que ele seguisse seu caminho. Continuo sem entender o motivo da falta de resposta. Mais dias e mais noites se passaram, terremotos aconteceram e a pedra caiu montanha abaixo. Por que? O que fiz para merecer isso? e os dias continuaram a passar. Cada homem que passava pela Pedra tinha ao menos um bocado de conversa, até que se passaram anos.

Os terremotos e os pedaços da Montanha tornaram a Pedra em morro. Sendo assim, todos os homens que sobreviveram da jornada montanha acima voltaram, outros apareceram e O Morro ganhou uma vila. 

— Ó Majestosa Montanha, agora entendo o que eu precisava.

— Oras meu filho, fico infinitamente orgulhosa com teu percurso.

Os humanos prosperaram por décadas, formaram um castelo, fizeram guerras, fundaram um país e O Morro nunca mais conversou com ninguém além de sua mãe Montanha.